"Você vai cantar pra Deus..."

Antes de eu entrar no shalom eu tinha uma banda de rock. Era vocalista. Não era algo que se possa dizer "nooossaa ele tinha uma banda de rock!!" mas pra gente e pros nossos amigos era bastante divertido...

Nada mais normal pra um adolescente de 16/17 anos, que insiste em ser "original" ouvindo as mesmas bandas e usando o mesmo all star de todos daquela idade. Mas pra mim isso era tudo. Eu costumava dizer que a minha alma era impressa nas músicas que eu ouvia. Elas eram minha diversão, meu consolo, minha companhia, minhas amigas... a trilha sonora da minha vida. Cantar fazia bem, a sensação de liberdade era incrível, e por incrivel que pareça, dizia estar sendo "eu mesmo", quando estava apenas imitando o Billie Joe...

E tudo isso em nada era agradável aos olhos de minha mãe. Ela é católica daquelas que vivem assistindo a canção nova, que choram nas palestras do Pe Fábio, que recebem a Mãe Rainha uma vez no mês... e eu não entendia nada disso =p (eu era protestante a0s 12/13 anos, e cresci com essa mentalidade. Saí da igreja, mas permaneci fechado ao catolicismo).

Não preciso nem dizer o quanto eu era um jovem vazio né... carente era apelido pra mim... eu tinha tudo, toda atenção da minha família... mas... não bastava! Sabe, faltava alguma coisa... e eu juro que não sabia explicar o que era... cds novos, lugares novos, musicas novas... cantar aquela musica bem alto na sala de estar... nada resolvia... mas tudo bem, nem tudo tem que ser perfeito, nem sempre somos felizes... felicidade dá e passa, todo mundo chora... vamos em frente...

Hoje eu vejo que alguém já me amava....

Naquela época havia uma música que minha mãe ouvia bastante, e que até hoje explica muito do cuidado de Deus na minha vida, pois ela também apareceu em outros momentos que eu pretendo contar depois...

"Quem se segurou foi Deus, com seu amor de Pai..."

Aquilo me dava uma paz! Mas não... eu era muito orgulhoso e fechado ao catolicismo... "como assim adorar imagens?!? se eu for pra igreja eu vou ser crente!" Mas não podia negar que aquilo me fazia bem... e eu ouvia com toda a satisfação... mas somente quando alguém colocava, nunca jamais por minha iniciativa...

"Senhor quando Te vejo, no sacramento da comunhão..."

Eu neeeeem sabia o que era comunhão!!! Mas [quem não ouviu essa música né?] no início dela, quando tem aquelas vozes em... eu axo que é latim... nossss... aquilo era tão massa... e aquela voz... aquele sentimento de paz, de amor, de acolhimento...

Um dia qualquer... sentei no meu quarto... peuguei meu violão - meu presente de aniversario de 18 anos - e fiz um acorde qualquer...

"Senhor quando Te vejo..."

Nunca fui bom em sacar musicas de ouvido, mas reconheci o acorde exato da música... e eu achei isso d+! Sozinho no meu quarto, comecei a buscar os outros acordes da canção... e consegui tocá-la inteira...

"Senhor quando Te vejo, no sacramento da comunhão..."

Eu não sabia o que exatamente eu estava cantando.... Mas era tão bom estar cantando! Era melhor do que tudo o que eu já tinha cantado...

Saí do quarto. Levei o violão junto. Minha mãe estava sentada embaixo de uma árvore na minha calçada... sentei no chão, ao lado da cadeira dela, e comecei a cantar...

"Jesus, fonte de misericórdia que jorra do templo..."

As lágrimas da minha mãe me surpreenderam.

"Mãe, o que houve?" - Eu era incapaz de entender o porque de imediato...

"Meu filho... você vai cantar pra Deus... e foi Ele quem me disse isso... eu entrego tanto você a Ele... mas essa noite Ele disse que eu não preocupasse... que o seu futuro estava garantido... e que você iria cantar sim, mas pra Ele..."

Foi impossível não chorar...

Continuei a música... Entramos em casa... Guardei o violão... e somente algum tempo depois fui compreender a grandeza daquele momento...

Esse ano, no Acamp's, eu estava servindo na música. Animava a galera, cantava músicas de fraternidade, de louvor... de adoração...

De repente eu vejo dezenas de jovens à minha frente, com seus braços para o alto... mas dessa vez com uma postura de oração... aqueles jovens cantavam, e choravam, e era impossível não sentir Deus presente ali... De joelhos, diante do Santíssimo Sacramento, percebi pra quem eu estava cantando... baixei o microfone e parei de cantar por um instante, pois não daria pra disfarçar o choro...

"Você vai cantar pra Deus, meu filho... e foi Ele quem me falou..."